Sentado,
ele vê pela janela a vida passando. Na verdade ele se sente muito
cansado disso, não suporta mais isso, sente que precisa viver, sabe que
no jogo da vida não pode ficar parado, mas não sabia como agir. No fundo
ele queria voar, ser livre, pensar de formas diferentes, tentar
atravessar a barreira que o cerca, ser outra pessoa.
Ele sente que é apaixonado por tudo e por todos, não quer perder essa sentimentalidade, mas sabe que a vida não oferece essa opção. Há que escolher o caminho e traçá-lo.
Pela janela dá para ver o rio, ele pensa em se jogar, não sabe nadar,
talvez isso resolva todos os seus problemas, não precisaria encontrar
respostas porque as perguntas também não existiriam mais. Não, essa
ainda não era solução, ele perderia mais do que ganharia.
A vida
lhe pregou muitas peças, zombou dele, irritou, mudou sua fisionomia,
envelheceu, ele foi e talvez ainda seja um amador, buscou e se jogou de
cabeça em tudo que fez, mas agora não podia fazer isso, não tinha mais
tempo, sentia que a vida lhe escorria pelos dedos.
Ao olhar para a
sala, tentou esquecer toda aquela nuvem de pensamentos, todas as quedas e
decepções que a vida lhe fez passar. Levantou-se, foi até o espelho e
viu aqueles cabelos brancos e sentiu que nunca mais se livraria de todos
os infortúnios da vida.
Esse rapaz não era o Bentinho, mas tinha
aquela mesma dúvida sobre a “sua” Capitu, não a dúvida da traição, a
outra, pois, se ela dizia que gostava dele, porque teria feito isso?
Porque, ir embora? Ou ela apenas mudou com o tempo também?
Por vezes
sentia ódio, outras uma satisfação enorme, mas tinha uma certeza, a de
quando estava ao lado dela, todo o tempo não tinha passado, tinha
futuro. Precisava dessa calma e paz que tanto merece. Afinal, não é
chorando que se vive, mas se morre um pouca a cada dia.